Ideias para Debate

Wednesday, March 30, 2005

Mais contas

Devido à chegada de uma série de textos actuais interrompi (acho que por demasiado tempo) a publicação da série de artigos do Joe Hanlon sobre o saque da nossa banca. De resto já só faltam dois. Aqui vai o penúltimo:



CONTAS EXTERNAS


Uma importante forma de fraude era tirar dinheiro das contas externas sem que isso fosse detectado nos registos em Maputo.
Todos os bancos têm ligações com os chamados 'bancos correspondentes' em outros países e estes bancos executam transacções sob instruções do banco que inicia a transacção - pagando e cobrando cheques e outras transacções. Os bancos em países pequenos guardam as reservas estrangeiras em contas no exterior, habitualmente em bancos correspondentes ou nos bancos em que são filiados. Nos anos 80 e até meados dos anos 90, antes de ser vulgarizado a informatização bancária por computador, as transacções eram feitas por telex seguido das confirmações documentais. Quem lidou com transferências do exterior sabe que existe uma taxa alta de erro e há sempre um grande número de items em contas transitórias. A reconciliação é sempre uma dor de cabeça, por muito boa vontade que haja.
Aqui a fraude básica é dar ordem de pagamento para uma conta externa - contra um telex, uma carta de crédito, um cheque, etc. - mas garantir que o pagamento não aparece nos livros em Maputo. Cresce assim a diferença entre a quantia que uma pessoa julga que tem numa conta, digamos em Nova York, e a quantia que está de facto na conta. Mas se não houver uma auditoria ou reconciliação, ninguém fica a saber da diferença. Assim era importante que não fosse feita nenhuma auditoria quando o BCM e o BPD foram comprados inicialmente.
O "ex-director do BCM" afirmava no Savana em Maio de 1995, que tinha detectado uma diferença de 12 milhões de dólares entre as contas no estrangeiro e os registos em Maputo, que a KPMG não tinha detectado porque havia uma contra-entrada na conta transitória. Outros funcionários bancários com quem falei sugerem que a diferença era ainda maior e há fortes suspeitas que na era de António Simões desapareceu mais dinheiro por este processo.
Em 1997 o BCM permitiu que as suas reservas externas se esgotassem, pagando as contas em dólares das contas externas mas não comprando mais dólares para substituir os pagamentos feitos. O BCM acabou por não ter dólares suficientes no exterior para cobrir os depósitos em dólares em Moçambique.
Poderia isto estar ainda a acontecer? De facto pode. Agora que o BCP detem o controlo total sobre o BCM e o BIM é impossível saber dos movimentos de dinheiro para dentro e para fora de Moçambique.
O mais interessante é que aparentemente isto também pode ocorrer com o BdM, o banco central, que provavelmente tem contas no exterior. O BdM é auditado pela KPMG que devia fazer as reconciliações. Mas as auditorias só são dadas ao BdM e ao Governo e não são públicas. Até agora, tanto a KPMG como o BdM recusaram falar connosco. E notamos que se fala insistentemente em lacunas da KPMG nas contas do estrangeiro do BCM. Assim é perfeitamente possível que os activos do BdM no estrangeiro também tenham ido pelo cano.

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